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Desenvolvimento da visão do bebê no primeiro ano de vida

Você sabia que a visão dos bebês não é tão nítida quanto a dos adultos? Pelo menos não até o final do primeiro ano de vida.


O sistema visual dos humanos começa a se desenvolver durante a gestação. Ao nascimento, as estruturas anatômicas responsáveis pela visão estão totalmente presentes, mas imaturas em seus potenciais.


A capacidade de focar, mover os olhos com precisão e usá-los em conjunto, como uma equipe, deve ser aprendida pelos bebês nos primeiros meses de vida. Além disso, os bebês precisam aprender a usar as informações que os olhos enviam ao cérebro para entender o mundo ao seu redor e interagir com ele adequadamente.


A primeira visão dos bebês é muito embaçada. Eles não veem muitos detalhes e enxergam o mundo em tons de cinza. Com o passar dos meses, o sistema visual (que engloba os olhos, o nervo óptico e o cérebro) vai se desenvolvendo e atingindo uma visão mais parecida com a de um adulto.


São necessários vários meses para que a visão do seu filho se desenvolva completamente. Conhecer os marcos do desenvolvimento da visão do bebê é importante para garantir que seu filho esteja vendo corretamente e aproveitando o mundo ao máximo.


Visão do bebê nos primeiros 12 meses de vida


Durante a gravidez


Excetuando-se as situações nas quais a gravida está com a barriga exposta à alguma fonte de luz forte, como em um dia de praia, praticamente não há iluminação dentro do útero.


Sendo assim, o bebê não necessita da visão inteiramente desenvolvida nesse estágio de vida. Não há praticamente nada pra se ver.

Os olhos do feto começam a se desenvolver na 4ª semana de gestação e a capacidade de detectar luz só surge na 16ª semana. Entretanto, o bebê só abre os olhos depois da 26ª semana, praticamente no terceiro trimestre da gravidez.


O fato deles quase não utilizarem os olhos não significa que essa fase não seja fundamental para o desenvolvimento do sistema visual dos bebês.


Doenças e complicações ocorridas durante a gravidez podem provocar alterações permanentes na visão.

Uma alimentação saudável da mãe durante a gestação é importante para fornecer ao feto todos os nutrientes que ele necessita para desenvolver o sistema visual. Já o adequado seguimento pré-natal ajuda na identificação precoce de doenças e infecções durante a gravidez.

Evitar o consumo de álcool, cigarros e medicamentos desnecessários também são fundamentais para que o seu bebê nasça com uma visão saudável.


Bebê recém-nascido


Logo após o parto, o pediatra ainda na maternidade, fará o teste do olhinho. Esse exame é obrigatório e serve para fazer o diagnóstico precoce de doenças, como catarata congênita, glaucoma congênito e retinoblastoma.

Embora esses problemas oculares sejam raros, eles devem ser detectados e tratados precocemente para minimizar o impacto no desenvolvimento da visão do seu filho.

Ao nascer, a visão do bebê é muito turva e ele não é capaz de distinguir cores. Apenas nuances de cinza. Ele também não consegue focar em objetos. Sua visão periférica é melhor que a central.

Em poucos dias, porém, o bebê já consegue distinguir o rosto da mãe do rosto de outras pessoas. Mas como ele só percebe grandes contrastes, sem perceber pequenos detalhes, é importante que a mãe não mude seu visual drasticamente, não corte o cabelo e mantenha sempre o mesmo penteado. Isso ajuda a criança a reconhecer mais facilmente que aquele rosto é o da sua mãe.


Apesar das limitações visuais, estudos mostram que, poucos dias após o nascimento, os bebês claramente preferem olhar a imagem do rosto de sua mãe em vez da de um estranho.

Os oftalmologistas acreditam que essa preferência depende de estímulos grandes e de alto contraste, como o limite da linha do cabelo da mãe em seu rosto. Nos estudos, quando esses limites eram alterados pelo uso de um lenço no cabelo ou touca de banho, a preferência dos bebês de olhar para o rosto da mãe desaparecia, provavelmente porque eles deixavam de reconhecê-la.


Primeiro mês de vida


A sensibilidade do recém-nascido à luz é muito baixa. Por isso, os pais não precisam ficar preocupados caso esqueçam a luz do quarto acesa ou algum abajur ligado, pois isso não irá atrapalhar o sono do bebê.

Quando nascem, as pupilas do bebê são bem pequenas, o que limita a quantidade de luz que entra nos olhos.

Com o passar das semanas, à medida que suas retinas se desenvolvem e estabelecem novas conexões com o cérebro, as pupilas aumentam de tamanho e os bebês passam a ver padrões e faixas claras e escuras. Formas grandes e cores brilhantes podem começar a atrair sua atenção. O bebê também pode começar a se concentrar em um objeto bem na frente dele.

A capacidade de focar objetos fica restrita a apenas 20 ou 25 cm de distância, mais ou menos a distância que o rosto da mãe fica enquanto o bebê mama.

Com uma semana de vida, a criança já começa a perceber as cores. Inicialmente começa pelas cores vermelha, laranja, amarela e verde. Mais tarde, ela passa a perceber também o azul e o violeta.

Para estimular a visão do seu filho nessa idade, decore o quarto e o berço com objetos de cores fortes e de vários formatos.

Nessa fase, é normal a criança ficar estrábica (vesga) de vez em quando. Um dos olhos pode desviar para dentro ou para fora. Isso ocorre de forma pontual e rapidamente volta ao normal.

Todavia, se você notar que esse desvio é muito grande e não retorna à posição natural, uma consulta com oftalmologista ou pediatra deve ser agendada.


Segundo e terceiro mês de vida


Nessa fase, a visão se desenvolve muito rápido. Os bebês já começam a ter uma visão mais nítida, são capazes de seguir objetos com os olhos e conseguem mudar o campo de visão sem mover a cabeça, apenas mudando a direção do olhar.

Os desvios dos olhos (estrabismo) tornam-se cada vez mais raros.


Nessa fase, o bebê estará também mais sensível à claridade. Para ajudá-lo a dormir é interessante reduzir a luz do quarto, principalmente à noite, para que ele comece a reconhecer a diferença entre dia e noite. Não é preciso, no entanto, deixá-lo na escuridão total. Uma luz de presença costuma ser indicada.

Para estimular a visão, continue colocando itens coloridos e variados no quarto. Mude os objetos de posição para forçar ele a segui-lo com os olhos. Ande com a criança no colo e fale bastante com ela.


Quando ele estiver acordado e supervisionado por um adulto, coloque-o deitado de barriga para baixo. Ele irá levantar o pescoço para olhar para a frente. Isso é um estimulo importante para o seu desenvolvimento motor e visual.

Não deixe o seu bebê virado de barriga pra baixo por muito tempo, principalmente ao dormir, pois essa posição está associada a um maior risco de morte súbita do recém nascido (leia: MORTE SÚBITA EM BEBÊS – Causas e prevenção).


À medida que a coordenação visual melhora, os olhos do bebê trabalham juntos para focar e seguir um objeto em movimento. Se você não perceber isso acontecendo consistentemente aos 3 meses de idade, converse com seu pediatra.


Do quarto a sexto mês de vida


Ao redor dos 5 meses, os bebês já conseguem ver em três dimensões, desenvolvendo percepção de profundidade. Nessa idade, eles ficam melhores em alcançar coisas porque podem ver a que distância um objeto está em relação á sua mão.

O bebê pode reconhecer seus pais do outro lado da sala e sorrir para ele. Pode também ver objetos do lado de fora ao olhar pela janela. Ele pode até lembrar de um determinado objeto, mesmo que apenas veja parte dele.

Ao redor dos 6 meses de idade, avanços significativos ocorreram nos centros de visão do cérebro, permitindo que seu filho veja mais distintamente e mova seus olhos com mais rapidez e precisão para seguir objetos em movimento.

A visão da criança está cada vez mais nítida. A visão que era de 20/400 (10% de eficiência visual) ao nascimento agora é de 20/25 (95% de eficiência visual). A visão de cores é quase igual a de um adulto.

A Academia Americana de Oftalmologia sugere que aos 6 meses a criança passe por nova avaliação com oftalmologista.


Do sétimo ao décimo segundo mês de vida


Nessa idade, os bebês conseguem coordenar melhor os olhos com as mãos. Já começam a engatinhar e, como têm melhor noção de profundidade, conseguem facilmente pegar objetos e levá-los à boca.

São também mais propensos a pequenos acidentes domésticos, inclusive com risco de enfiar algum objeto no olho e ter graves consequências. Esteja atento.

Geralmente, aos nove meses de idade, os olhos do seu bebê já adquiriram a cor final, embora não seja incomum que você veja algumas pequenas alterações mais à frente.

Aos doze meses de idade, a maioria dos bebês estará engatinhando e tentando andar. Apesar da ansiedade para que o bebê comece logo a andar, os pais não devem desincentivar o engatinhar, pois ele ajuda a criança a desenvolver uma melhor coordenação olho-mão.

Não deixe o bebê passar muitas horas na frente da TV, telefone celular ou tablets. Mesmo que seja vendo vídeos educativos.

A criança precisa de diferentes estímulos para se desenvolver, não só aqueles vindos dos aparelhos eletrônicos. O brilho da tela é muito intenso e vai fazer com que a criança não preste atenção em mais nada ao seu redor, reduzindo, assim, a quantidade de diferentes estímulos que ela recebe.

Crianças com elevado tempo de uso de aparelhos eletrônicos dentro de casa apresentam maior risco de desenvolverem miopia.


Sinais de problema na visão dos bebês

A presença de problemas visuais nos bebês é pouco comum. A maioria começa a vida com olhos saudáveis e desenvolve as habilidades visuais necessárias ao longo da vida sem dificuldade.

Ocasionalmente, porém, doenças oculares podem se desenvolver. Os pais devem estar atentos aos seguintes sinais, que podem ser indicações de problemas visuais:

  • Lacrimejamento excessivo: pode indicar ductos lacrimais bloqueados.

  • Pálpebras persistentemente avermelhadas ou com crostas: pode ser um sinal de infecção ocular.

  • Estrabismo constante: pode sinalizar um problema no controle do músculo ocular, principalmente após os 4 meses de idade.

  • Pupila branca nas fotos com flash: esse sinal chama-se leucocoria e pode indicar a presença de catarata ou tumor ocular.

  • Incapacidade de focar objetos aos 4 meses: pode ser sinal de estrabismo.

Outros sinais e sintomas que devem ser observados são sensibilidade extrema à luz, coceira ocular frequente, vermelhidão dos olhos, secreção ocular e dor.


Doenças oculares em crianças prematuras

Crianças nascidas com menos de 37 semanas são consideradas prematuras. Os bebês prematuros são mais propensos a terem problemas visuais. Dois exemplos são:

  • Retinopatia da prematuridade (ROP): nessa doença, o tecido retiniano sofre crescimento anormal dos vasos sanguíneos, fibrose e cicatrização. Pode ocorrer até descolamento de retina. Casos mais graves podem causar cegueira. Crianças muito prematuras, com baixo peso e que receberam oxigênio suplementar na maternidade tem risco maior de desenvolver ROP.

  • Nistagmo: é um movimento involuntário e constante dos olhos de um lado para o outro (pode ser também de cima par baixo ou rotacional). Pode estar presente desde o nascimento ou só aparecer algumas semanas depois. O nistagmo ocorre porque há algum problema no desenvolvimento do sistema visual. O exame com o oftalmologista deve ser feito assim que o nistagmo é percebido.

Referências

  • Current Understanding of What Infants See – Current Ophthalmology Reports.

  • Baby’s Vision Development: What to Expect the First Year – American Academy of Ophthalmology.

  • 20 Things to Know About Children’s Eyes and Vision – American Academy of Ophthalmology.

  • Infant Vision: Birth to 24 Months of Age – American Optometric Association.

  • Vital-Durand, François, Janette Atkinson, and Oliver J. Braddick, eds. Infant Vision. Oxford: Oxford University Press, 1996. Oxford Scholarship Online, 2012.

Autoria


  • Dr. Renato Souza Oliveira, oftalmologista especializado em doenças da córnea, com predileção pela cirurgia de catarata e tratamento do Ceratocone.

  • Dr. Pedro Pinheiro, médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN).

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